Um estudo revela que, desde 2002, o Brasil registrou 22 ataques de “violência extrema” em escolas, incluindo o atentado desta quarta-feira (27), em uma instituição de ensino estadual de São Paulo. Uma professora foi esfaqueada e morreu após uma parada cardíaca.
A pesquisa revela que foram 36 vítimas fatais, incluindo estudantes, professoras, profissionais da educação e atiradores. Não constam os planos que foram desarticulados antes de acontecerem ou os que ocorreram no momento de uma briga (não planejados).
De 23 ataques, 7 ocorreram no 2º semestre de 2022, e 3 em 2023. O mais jovem dos agressores tinha 10 anos, e o mais velho 25 anos. Foram 16 alunos e 12 ex-alunos que realizaram os atentados – em 3 casos, agiram em duplas.
A pesquisa também mostra que foram usadas armas de fogo em 12 ataques. Em 6, os atiradores tinham a arma em casa; em 4, compraram de terceiros; e em 2, os artefatos são de origem desconhecida. Os alvos foram 12 escolas estaduais, 6 escolas municipais, 1 municipal cívico militar e 4 particulares.
À CNN, Telma Vinha, doutora em educação, professora da Unicamp e uma das pesquisadoras responsável pelo estudo, afirmou que uma conjunção de fatores está impulsionando o aumento de incidentes desse tipo.
Entre eles, o acesso fácil a discursos de ódio propagados na internet, a facilitação do acesso a armas de fogo e o sofrimento dentro da escola. “Nós temos uma radicalização da juventude. Eles cada vez mais tem frequentado fóruns extremistas, onde são radicalizados. A soma da radicalização, do acesso à internet cada vez mais fácil, aprendendo a realizar esses ataques, e mais o sofrimento na escola e outros fatores ainda, forma um caldeirão, uma conjuntura que facilita que esses ataques ocorram”, disse a doutora em educação.
Esfaqueamento em São Paulo
A filha da professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, que morreu nesta quarta-feira (27) após ser esfaqueada em um ataque em uma escola estadual de São Paulo, falou sobre o carinho que ela recebia dos alunos.
“O meu cunhado, que levava ela todo dia para dar aula, disse que a hora que ela chegava ali na escola, os alunos mesmo que vinham e abraçavam, ela era muito muito querida nessa escola, era um negócio impressionante (sic)“, contou.
Ainda segundo a filha, Elisabeth começou a lecionar na Escola Estadual Thomazia Montoro, onde ocorreu o atentado, neste ano. “Ela era uma professora muito querida por onde ela passou. Os alunos, inclusive, mandavam mensagem para ela quando eles tinham alguma conquista ‘olha, professora Beth, graças a você, que me fez pensar, me fez refletir na minha trajetória, no meu caminho, em buscar oportunidades’”, afirma.
A CNN teve acesso a um boletim de ocorrência registrado no dia 28 de fevereiro pela Escola Estadual José Roberto Pacheco, de Taboão da Serra, na Grande São Paulo, no 1º Distrito Policial (DP) da cidade, que mostra que o estudante em questão já havia feito ameaça de ataque contra a instituição de ensino.
No documento, está escrito que o jovem estava “apresentando um comportamento suspeito nas redes sociais, postando vídeos comprometedores como, por exemplo, portando arma de fogo, simulando ataques violentos”.
“O aluno encaminhou mensagens e fotos de armas aos demais alunos por WhatsApp a alguns pais estão se sentindo acuados e amedrontados com tais mensagens e fotos”, complementa o boletim.
Aluno planejou atentado com arma de fogo
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, afirmou em coletiva de imprensa que o aluno planejava um atentado com arma de fogo.
De acordo com o secretário da Educação, Renato Feder, o agressor teve problemas com violência em outra escola, além de ter proferido insultos racistas contra colegas da Thomazia Montoro.
Feder anunciou a ampliação do programa Conviva – responsável por oferecer suporte emocional para estudantes -, que passará a contar com 5 mil profissionais (atualmente são 500), distribuídos por todo o estado. Além disso, os atendimentos psicológicos presenciais serão retomados nas escolas.
publicado por Tiago Tortella, da CNN
com informações de Lucas Schroeder, Evelyne Lorenzetti e Bianca Camargo, da CNN