Aquele que CRE

Postado 24/02/2023
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É cada vez mais comum o consenso que a abordagem clínica de um paciente pode, e em muitos casos deve, envolver questões sobre a espiritualidade. Antes de dar continuidade ao raciocínio, é interessante deixar claro aqui conceitos próximos mas diferentes, para que não haja mal entendidos. Religião é um sistema organizado de crenças e práticas que aproximam a pessoa do sagrado. Religiosidade é a prática da religião, como o indivíduo acredita e segue a religião. Espiritualidade já aborda aspectos existenciais. Por exemplo, a busca pessoal para entender aspectos relacionados ao fim da vida.

Em diversos momentos, o médico irá manejar situações extremamente estressantes. Muitas vezes, focar a religiosidade ou espiritualidade da pessoa traz ótimas saídas. Essa estratégia chama-se coping religioso-espiritual (CRE). Se o profissional percebe que estimular a fé do paciente traz benefícios (estimular orações, o perdão, a meditação, leitura de livros religiosos, etc), ele adota tal estratégia. Caso contrário, deve-se dar suporte para a ressignificação dos conflitos. Um exemplo dessa situação seria a pessoa que acredita que Deus a abandonou por não alcançar a cura.

A revisão de Koening mostra que sim, as evidências embasam um impacto positivo da religiosidade/espiritualidade e as graves consequências de não fazê-lo por parte dos profissionais, especialmente sobre pacientes em situações de doença grave e/ou terminalidade da vida. Só pra deixar mais claro, aqui vão exemplos positivos da abordagem: diminuição do risco de mortalidade superior em relação a outras práticas de prevenção e promoção de saúde como ingestão de vegetais, rastreamento de neoplasias, uso de estatinas, entre outros.

As evidências em relação à saúde mental são ainda mais robustas. Gonçalves e colaboradores, em uma revisão sitemática de 4751 artigos, perceberam impacto estatisticamente significativo das intervenções que estimulam aspectos religiosos em sintomas de ansiedade geral, resposta positiva e sustentada em relação ao tratamento da depressão, redução do estresse pós traumático, alcoolismo e frequência da dor em casos de enxaqueca.

As crenças e valores espirituais interferem de maneira direta na experiência com a doença. O CRE pode ser positivo ou negativo, como explicado acima. A partir da identificação de qual polo se encontra o paciente, o profissional monta sua abordagem. As evidência também mostram que as pessoas desejam que a equipe de saúde abordem tais questões religiosas/espirituais. Portanto, é apropriado ao médico ter conhecimento sobre essas necessidades do indivíduo. Vejam que falei a maioria, não todos. Há uma minoria que não deseja tal abordagem. Estudos mostram que são pessoas que, geralmente, não se encontram gravemente doentes.

Por último, a abordagem espiritual traz benefícios para o próprio profissional. Estes podem vivenciar uma transformação pessoal como, por exemplo, aumentar o nível de empatia, além de determinar maior satisfação no trabalho. 

Eu sou o Renan Carnaúba Teles, médico clínico geral que atua no contexto da atenção primária à saúde. Que Deus o abençoe e até a próxima oportunidade.

Referências:
https://www.adventistas.org/pt/saude/8-remedios-naturais/. Acesso em 17/02/2023. Gusso G, Lopes JMC, Dias LC, organizadores. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed; 2012. Capítulo 95; Espiritualidade e saúde.

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