Em 31 de maio de 1987 – eu havia nascido pouco tempo antes – a OMS criou o dia mundial sem tabaco. Essa é a principal causa de morte evitável do mundo. Devido a uma luta intensa contra esse mau, no Brasil e no mundo, observou-se uma redução significativa na prevalência do tabagismo nas últimas décadas. Obviamente, isso trouxe preocupações para a indústria do tabaco. Então, agora, a moda é: cigarros eletrônicos.
Não existe um levantamento sobre a quantidade de marcas e refis de Dispositivos Eletrônicos para fumar (DEF’s). Porém a variedade é enorme, inclusive variedade de aditivos para aromatizar e saborizar. Coloque em seu pesquisador de internet o seguinte: ”e-liquid flavor wheel” e você entenderá o que estou dizendo. Sabor café, menta, balinha, goma de mascar, limão, laranja, côco, vinho, vodca, rum…uma infinidade.
Esses dispositivos estão evoluindo, chegando à 4ª geração deles. Os primeiros eram descartáveis, em formato de cigarro comum, vazavam com frequência, não eram tão atrativos. Os atuais, de 4ª geração, são mais bem construídos, chamados pods ou pen-drives. Existem os descartáveis mas também os recarregáveis. Têm mais sabores e cheiros, bem como mais ácidos de nicotina, portanto, mais viciantes.
Os DEF’s estão ficando cada vez mais coloridos e atrativos para o público jovem
A grande questão é que tais dispositivos também contém substâncias extremamente nocivas ao organismo, e estão sendo “vendidos” como opções viáveis ao cigarro comum, já que, supostamente, de acordo com a própria indústria do tabaco, não causa mau. Porém, o cirgarro eletrônico contém nicotina, álcool, água, glicerina e aromas, além de substâncias como o propileno glicol e glicerol, e não há pesquisa sobre seus efeitos colaterais.
Segundo o INCA, são várias as doenças já relacionadas com o hábito de fumar os DEF’s: câncer (pulmão, laringe, faringe, esôfago, entre outros), doenças do aparelho respiratório (enfisema pulmonar, bronquite crônica, infecções respiratórias diversas, asma), doenças cardiovasculares (angina, infarto, hipertensão, AVC’s). Inclusive, existe a doença chamada EVALI (Lesão Pulmonar Induzida Pelo Cigarro Eletrônico, traduzido do inglês) que já provocou diversas mortes ao redor do mundo.
Não se engane, jovem. Os DEF’s não foram feitos para ajudá-lo a parar de fumar. A pessoa que já fuma o cigarro normal, vai manter fumando. Na verdade, passará a fumar tanto o cigarro eletrônico quanto o cigarro normal. Aqueles que nunca fumaram, passarão a fumar o cigarro eletrônico podendo, inclusive, levar a fumar o cigarro normal. E há também aqueles que pararam de fumar, mas, após o contato com o cigarro eletrônico, retomou seu hábito de tabagismo com o cigarro normal.
Infelizmente, a prevalência do uso de DEF’s está aumentando o que pode comprometer a exitosa política contra o tabaco. Não faça parte dessa estatística. Se tiver alguma unidade de saúde pública perto da sua casa, procure um médico. Você será acolhido e atendido em sua necessidade.
Eu sou o Renan Carnaúba Teles, médico clínico geral que atua no contexto da atenção primária à saúde. Que Deus o abençoe e até a próxima oportunidade.