Com o avanço da internet e das mídias sociais, o termo “mimimi” passou a fazer parte do vocabulário como uma forma de ridicularizar quem reclama de algo. Na caso da Bíblia, algumas das maiores punições aplicadas por Deus ocorrem justamente contra aqueles que murmuram. A murmuração foi considerada uma transgressão gravíssima em várias histórias bíblicas, e em especial durante a saída do povo hebreu do Egito.
Mas será que toda murmuração é injustificável? No livro de Números (capítulo 27), durante o êxodo, um homem morreu. Ele não tinha filhos homens, mas cinco filhas, e na cultura e época, as mulheres não tinham o direito de herdar a terra. As filhas daquele homem, porém, se dirigem ao grande líder Moisés e murmuram. Lembre-se, que isso ocorre pouco tempo depois de outras pessoas terem morrido ou serem duramente punidas por murmurarem. As pessoas murmuravam por causa da autoridade de Moisés, por causa da comida, pela falta d’água, além de outras coisas. E nem Miriã, irmã de Moisés, escapou de uma punição exemplar.
Aquelas mulheres foram “murmurar” exigindo justiça. Mesmo que essa justiça fosse contra os costumes da época. E por incrível que pareça, mais de 3000 anos depois, ainda há mais de 30 países onde mulheres não têm o direito à posse da terra. Em quase 40% dos países do mundo, elas só conseguem o direito à terra depois de uma grande luta judicial. No Brasil, por exemplo, as mulheres casadas não podiam até 1962, legalmente, adquirir ou possuir propriedade. Mas, voltando à história bíblica, Moisés pergunta a Deus o que fazer no caso da murmuração das mulheres, e a resposta de Deus foi:
“Elas têm razão e todo o direito de possuir a terra”
Aqui surge algo impressionante, Deus cria um decreto para acabar com os malefícios de uma tradição. Ou seja, é possível mudar costumes, mesmo nocivos, através de decretos e da aplicação da lei. O mimimi daquelas mulheres era justo e abriu o caminho para acabar com uma grande injustiça que se mantinha vigente por causa dos protocolos da época.
Outra murmuração interessante é encontrada no novo testamento. Em Atos dos Apóstolos (capítulo 6), encontramos as viúvas gregas dentro da igreja. Elas estavam sofrendo injustiça na hora da divisão da comida e como pertenciam a uma classe relativamente nova no meio cristão, e até certo ponto desprezadas, pois eram “estrangeiras”, estas mulheres recebiam menos comida do que as outras. Alguns irmãos murmuraram, e não concordavam com aquela prática injusta. O mimimi foi tão grande, que os apóstolos fizeram uma conferência e elegeram alguns dos homens mais importantes da congregação, entre eles Estevão (que se tornaria o primeiro mártir), para resolver o problema que os apóstolos consideraram um “importante negócio”.
Agora pense comigo. Se tal injustiça ocorria dentro de uma igreja poderosa, que presenciava milagres todos os dias, e na qual os próprios apóstolos eram os líderes, o que podemos esperar da igreja de hoje? Quando foi a última vez que a igreja convocou os seus líderes para resolver o problema de pessoas que estavam sendo desprezadas, sofrendo racismo, ou mesmo passando fome dentro da própria comunidade?
Já vi pessoas dentro da igreja murmurando por causa da música, dos instrumentos, do sermão, do calor, do frio, da roupa ou até mesmo do perfume (ou falta dele) de alguns irmãos, mas infelizmente ainda não vi ninguém se levantar e fazer um grande mimimi por causa das injustiças que ocorrem dentro do meio cristão. Quer murmurar? Então saiba que você tem a aprovação de Deus, caso o seu mimimi seja por justiça social ou qualquer outro tipo. E se ainda tem dúvidas, leia o capítulo 58 do livro de Isaías.