Gostaria de aproveitar a oportunidade para falar um pouco sobre a saúde da mulher neste mês de março que é marcado pelo enfrentramento ao câncer de colo do útero. Talvez falar sobre um tema “batido”, mas com enfoque diferente. Um enfoque sobre a importante vacina contra o HPV (papilomavírus humano)! A primeira pergunta que surge é: qual a relação do HPV com o câncer de colo do útero?
Primeiro, existem alguns tipos de HPV, sendo os mais comuns: 6 e 11, associados a verrugas genitais; 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58, associados ao câncer de colo do útero. Para que haja o surgimento do câncer, é necessária a presença do HPV do tipo oncogênico e de modo crônico. De tal modo que a persistência da infecção por 1 a 2 anos é um forte preditor de lesão de alto grau nos anos subsequentes.
Entendido isso, a próxima pergunta seria: como me proteger desse vírus? Obviamente que quanto mais cedo expõe-se ao vírus, ou seja, quanto mais cedo ocorre a primeira relação sexual, quanto mais parcerias sexuais e quanto menos proteção, maiores são as chances de adquirir o HPV, portanto, maiores as chances de desenvolver o câncer de colo do útero. Mas hoje temos uma arma importantíssima a nosso favor. A vacina contra alguns tipos de vírus do HPV.
O imunizante é distribuído gratuitamente pelo SUS. O Instituto Butantan, aqui no Brasil, é o responsável por sua produção nacional, protegendo contra os tipos 6, 11, 16 e 18. É muito importante que a vacinação ocorra em momento oportuno, que é justamente antes do início da vida sexual. São 3 doses no total. A OMS espera que até 2030 ao menos 90% das meninas sejam vacinadas aos 15 anos de idade.
Por que se vacinar? Alguns motivos: 80% da população sexualmente ativa terá contato com o vírus do HPV; as lesões causadas pelo vírus são potencialmente graves, afinal, pode levar ao câncer de colo do útero, entre outros; mesmo sem penetração, o vírus pode ser transmitido, basta haver contato; o câncer de colo do útero está entre os mais prevalentes nas mulheres e, infelizmente, muitas ainda morrem dessa doença que, para a maioria, seria evitável; a vacina protege, não apenas contra o câncer de colo uterino, mas também contra o câncer de vulva, vagina, peniano, anal, orofaringe e verrugas genitais.
Quem deve se vacinar? Meninas e mulheres dos 9 aos 26 anos de idade (preferencialmente, antes dos 14 anos); meninos dos 9 aos 14 anos; pessoas imunossuprimidas; pessoas com câncer de 9 a 45 anos de idade. No SUS, a vacina é liberada dos 9 aos 14 anos e para pessoas imunossuprimidas e paciente oncológicos.
Outra pergunta muito comum é se a vacina trata a infecção pelo HPV. A resposta é não, o imunizante não trata nem cura.
Infelizmente, ainda estamos abaixo da meta de vacinação de 80% da população elegível. A desinformação e as famosas face news são os principais motivos. Mas também contribuem: a baixa taxa de alfabetização do Brasil; ser uma vacina nova, que iniciou-se em 2014; muitos não sabem que o vírus do HPV pode ser transmitido sexualmente; campanhas insuficientes a favor da vacinação.
Espero que essas poucas linhas tenham trazido um pouco mais de luz para um assunto tão importante, mas ainda negligenciado. Qualquer dúvida, procure seu médico ou outro profissional de saúde da sua confiança.
Eu sou o Renan Carnaúba Teles, médico clínico geral que atua no contexto da atenção primária à saúde. Que Deus o abençoe e até a próxima oportunidade.
Referências
https://www.paho.org/pt/vacina-contra-virus-do-papiloma-humano-hpv
https://bvsms.saude.gov.br/vacina-contra-o-hpv-a-melhor-e-mais-eficaz-forma-de-protecao-contra-o-cancer-de-colo-de-utero/
https://butantan.gov.br/hpv