Usamos nosso bônus demográfico… E agora?

Postado 02/04/2025
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A república encontrou um país com pouco mais de 14 milhões de habitantes, com a maior parte dela morando no campo e com maioria absoluta de analfabetos. Na virada do século XIX para o século XX, a população já era de cerca de 17,4 milhões de habitantes, ainda com o mesmo perfil anterior. Claro que a falta de acesso a cidadania se destacava como uma regra, principalmente para a parcela da população negra – que por sinal sofre com isso até os dias atuais.

Uma data histórica que mudou consideravelmente o panorama político do país é o ano de 1930, quando Getúlio Vargas chega ao poder. Ele já passou a comandar um país com 35,5 milhões de habitantes e uma situação social difícil e de infraestrutura deficiente. Mas não estamos aqui para falar de política e sim de números. Quem diria que menos de 100 anos depois esse número saltaria para 203 milhões de habitantes, parte dessa população ainda com os mesmos problemas?

Em 1964, o país contava com uma população de 81,5 milhões de habitantes e já na redemocratização, em 1985, esse número já era de 135,5 milhões. Um salto impressionante, que iria causar desequilíbrios na infraestrutura, que não estava (e ainda não está) disponível para boa parte das pessoas. Mas esse crescimento populacional iria arrefecer nos anos seguintes. Ai que começa a ficar interessante nossos números.

O ano de 1960 foi o que apresentou o maior número de nascimentos de bebes no Brasil. Nunca havia sido registrado um número tão elevado e também dificilmente será superado. Já na década de 80, o maior número de nascimentos foi registrado em 1988. Desde então, a taxa de crescimento da população vem reduzindo a cada ano, mudando bastante o perfil da população atualmente. Já não se vê famílias com uma grande quantidade de filhos, nem filhos com uma grande quantidade de tios…

Na série histórica também encontramos algumas curiosidades. Embora o número de mulheres seja sempre maior que o de homens, nasce mais homens do que mulheres. No ano 2000, para um total de nascimentos de 3,4 milhões, foram 1,74 milhões de homens e 1,68 milhões de mulheres. Esse percentual se mantém ao longo dessa década. Em 2024, foram registrados 2,48 milhões de nascimentos (27,4% menos que no ano 2000), sendo 1,27 milhões de homens e 1,21 milhões de mulheres.

A demografia também expõe nossas mazelas. Embora nasça mais homens que mulheres, como visto nos números do parágrafo anterior, os homens estão mais expostos a riscos, inclusive pela violência, de forma que até os 30 anos, a população feminina já supera a masculina. No ano de 2024, o Brasil tinha uma população de 29,64 milhões de pessoas entre 21 e 30 anos, formada por 16,17 milhões de homens e 16,27 milhões de mulheres. Na faixa de 0 a 25 anos, a taxa de mortalidade de homens é de 5,73% e a de mulheres 3,91%.

Também precisamos destacar que estamos usando atualmente o que tínhamos de “bônus demográfico”. Atualmente a maior concentração da população se concentra na faixa entre 31 e 50 anos de idade, com 69% da população economicamente ativa (PEA), considerada como a população que tem potencial de gerar renda, na faixa de 15 a 64 anos.

O país está envelhecendo a passos largos. Em 20 anos teremos um país de maioria de idosos e precisamos tomar providências agora para que isso não ocorra. Alguns países na Europa estão passando por este processo já agora e empobrecendo rapidamente, com baixa taxa de natalidade e uma população idosa que merece cuidados.

Na Europa, inclusive, tem um alerta ligado nas autoridades de vários países, uma vez que a taxa de natalidade de imigrantes é superior ao da população nativa, e em alguns anos, países como a França terá uma população de descendentes de imigrantes superior a parcela da população de descendentes de franceses. Influenciando inclusive em aspectos religiosos, visto que a população que mais cresce é descendente de mulçumanos.

Precisamos ficar atentos aos desdobramentos desses números. Isso tem impacto em vários setores da sociedade. Será que estamos pensando que, a cada ano um número menor de alunos vão procurar as escolas para sua formação inicial e um número maior de pessoas mais experientes vão perder seus empregos pela aceleração da tecnologia e precisarão voltar a escola para adquirir novas competências?

Será que nossa rede de assistência social está preparada para um país de idosos? Será que nossas construções estão sendo feitas pensando nisso? São muitas questões para se pensar. Convido você a refletir na sua área qual o impacto disso. Estamos usando o que tinha de bônus demográfico. Éramos um país jovem, hoje um país maduro e muito em breve um país de idosos. Será que estamos preparados para isso?

*Eu sou Joabson Nogueira de Carvalho, doutor em Engenharia Elétrica, professor do Instituto Federal da Paraíba e consultor ad-hoc da Secretaria de Regulação e Supervisão do Ministério da Educação. Vamos estar juntos para trazer mais aspectos interessantes da educação e da tecnologia.

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